Rápida introdução ao LilyPond

De acordo com o site do projeto, “LilyPond é um programa de notação musical dedicado a produzir partituras musicais com a maior qualidade possível”. Diferente da maior parte dos programas que cumprem essa função, o LilyPond processa um arquivo de texto que contém toda informação sobre o conteúdo da partitura e é humanamente legível. Isso faz dele algo semelhante à uma linguagem de programação. Não se escreve música arrastando notas de uma barra de ferramentas gráfica e posicionando-as em uma partitura; em vez disso, se escreve um código. Este código é interpretado pelo LilyPond, que gera a partitura. Assim, o que você vê na tela do computador (um arquivo de texto) não é o que você terá como resultado, mas, sim, o que você quer. Ao mesmo tempo, é possível compilar automaticamente o arquivo a cada modificação e observar as alterações no arquivo gerado. Recomendo o Frescobaldi para edição de partitura em LilyPond. Ele apresenta uma pré-visualização do resultado, bem como muitas outras ferramentas.

Trabalhar com arquivos de texto simples (plain text) tem muitas vantagens. É mais simples, pode ser aberto em qualquer editor de texto, e é muito improvável que deixe de existir. Assim são os arquivos .ly que escrevemos para gerar uma partitura. Ao contrário dos arquivos binários do Sibelius ou Finale, que podem se tornar ilegíveis no futuro, um arquivo do LilyPond sempre poderá ser lido e compreendido.

Como o LilyPond é um projeto de código aberto, ele não depende de uma única empresa. A força da comunidade garante que o projeto será mantido, adaptado e continuará funcionando, mesmo que alguns de seus criadores se afastem. Isso me dá a segurança para seguir usando.

Se tu precisas notar uma música simples, ou melhor, bastante convencional em termos de notação, é muito fácil aprender. Mas, uma desvantagem pode ser o tempo de aprendizado para se alcançar certa fluência quando o caso é de muitos overrides e tweaks, alterações dos padrões. Veja o seguinte exemplo:

Mudanças de clave, alterar ou esconder cabeças de notas, bem como definições de estilo (espaçamento horizontal, p. ex.), tudo isso precisa ser descrito e, por vezes, fazer algo visualmente simples pode ser bem complicado. Mas, em geral, compensa ter controle sobre onde as coisas aparecem em vez de sofrer com objetos mudando de lugar a cada vez que você muda algo na partitura, como acontecia quando utilizava o Finale.

A página introdutória ao método de entrada de texto do LilyPond ilustra com imagens os principais elementos do código, o que também apresento abaixo:

• As notas são representadas por letras (em inglês: c d e f g a b) e números (1: semibreve, 2: mínima, 4: semínima, 8: colcheia, 16: semicolcheia, 32: fusa, 64: semifusa)
• Em inglês (outras linguagens são disponibilizadas), alterações são feitas incluindo s para sustenido (sharp) e f para bemol (flat)¹¹ qs para um quarto de tom acima, qf para um quarto de tom abaixo, tqs para um quarto de tom acima de sustenido e tqf para um quarto de tom abaixo de bemol. cs4 é uma semínima de dó sustenido. As oitavas são indicadas com apóstrofes e vírgulas: c' equivale a C4, dó central, c uma oitava abaixo e c,, duas oitavas abaixo. Acordes são escritos entre < >, <c’ e’ g’>4 é a tríade maior na oitava 4 com duração de uma semínima.
• Ligaduras de duração são feitas com ~. Duas semínimas de ré sustenido ligadas são escritas assim: ds’4 ~ ds’4. É possível omitir uma das informações (letra ou número) quando se repetem. ds’4 ~ 4 é o mesmo que ds’4 ~ ds’4.
• Os parênteses indicam ligadura de expressão: (ds’4 cs’).
• A barra \ é usada para comandos especiais: \time 2/4, por exemplo, indica que as notas escritas em seguida serão notadas em uma fórmula de compasso binária em que duas semínimas preenchem um compasso; \p depois de uma nota adiciona a dinâmica piano a ela; \staccato (ou -.) adiciona a articulação staccato à ela.

• A partitura em LilyPond estrutura-se em níveis. O conteúdo de nível mais baixo está em uma voz (\Voice), que está em uma pauta (\Staff), que está ou não em um grupo de pautas (\StaffGroup) (um naipe, por exemplo), que está em uma partitura (\Score), que está em um livro (\Book):

  \Book{
    \Score{
      \StaffGroup{
        \Staff{
          \Voice{
            cs’4
          }
        }
      }
    }
  }
  

Segue abaixo um exemplo de escrita para violão:

\version "2.25.13"
\language "english"

\paper { page-breaking = #ly:one-line-auto-height-breaking }
\new Staff {
  \time 5/8
  b'8\1^"L.V." b\2 gs'\1 fs'\2 e'\1
  ds'\2 e'\1 fs'\2 gs'\1 b\2}